[Rank C] ─ "Pregando Peças"

Desta vez, diferente dos últimos dois dias, consegui acordar num horário razoavelmente cedo e apropriado. Neste caso tinha um motivo, entretanto: pela proficiência exímia demonstrada na execução de três missões de ranque D, me tornei automaticamente elegível para receber uma missão um nível maior; naturalmente, mais difícil, possivelmente com combate envolvido e com importantes tomadas de decisões também. Pode-se imaginar, portanto, o quão ansioso eu fiquei. Na noite anterior, demorei bastante para dormir, me debatendo de um lado ao outro enquanto tentava pensar em todas as possibilidades imagináveis e todos os cenários ruins em minha cabeça. No final, mantive pensamentos otimistas em minha mente e foi o suficiente para que eu conseguisse ao menos descansar até o dia seguinte. Acordei com o despertador, já que me obriguei a estar desperto num horário prudente. Desliguei o seu alarme o mais rápido que pude também, para que não acordasse minha mãe antes do necessário e pudesse descansar um pouco mais. Isto também envolvia me mover silenciosamente, ou ao menos me movia o mais quieto que era capaz no momento. Desperto sozinho desta vez - já que meu pai saía de madrugada para trabalhar -, lentamente derramava meu cereal na vasilha para que não fizesse tanto barulho assim enquanto o leite esquentava. Me vesti enquanto aguardava o líquido atingir o ponto desejado: uma camiseta preta, uma calça preta, sandálias ninja acinzentadas de cano longo que se prolongavam próximas de meus joelhos e a bolsa ninja, de cor preta com faixas brancas, era fixada em minha coxa esquerda, facilitando o remover e empunhar de armas cortantes ali armazenadas. Assim que me aprontei, corri para desligar o leite o mais rápido que podia sem que fizesse muito alarde. Deveria dar continuidade ao "Miyamoto Musashi", o primeiro volume de uma série de livros que biografavam uma importante figura que viveu há incontáveis anos atrás. Não era muito bem meu gênero literário preferido, mas algo em sua história temporariamente chamou-me a atenção o suficiente para que comprasse todos os volumes. Era interessante como minha mãe me adaptou na literatura mas quase perdia sua sanidade quando via que eu gastava a maior parte das recompensas de minhas missões em livros. As instruções seriam entregues em meu correio às oito horas em ponto, então tinha meia hora de espera e preparação. Ou então eu poderia continuar lendo o livro. Foi o que decidi fazer.

Algumas colheradas de cereal depois, terminei de tomar meu café da manhã. Faltavam, agora, poucos minutos para que o entregador de missões deixasse minha carta na caixa de correio - se eles fossem pontuais, isto é. A estratégia de ler para que o tempo passasse mais rápido funcionou, e, enquanto eu me via compenetrado nas aventuras de um samurai lendário, meus ouvidos detectaram o atrito de papel com o piso. Assim que removi meus olhos das inscrições do livro e os pus sobre a parte inferior da porta, notei que, ao invés de depositar a carta na caixa de correios, o carteiro optou por se certificar de que o documento entrasse na casa á qual estava destinado. Levantei-me da cadeira apenas para retornar segundos depois, agora com a carta em mãos. Removi o selo com as inscrições da vila - me perguntando o quão raro ele era - e, removendo um papel de qualidade superior do envelope, admirei o quão bela era a escrita. Delineada com um pincel, sem dúvidas. E de maneira quase artística. Amava caligrafia, e aquele documento era um doce para os olhos. Rapidamente interrompi meus devaneios, entretanto, relembrando-me de que beleza não era o aspecto principal do documento, e sim incumbir de algo importante. Após admirar o papel, portanto, dei início à leitura do documento em questão.

Que vergonhoso. Limpar a bagunça feita por meus antigos colegas de classe! A escrita não dizia seus nomes, então minha mente começou a vaguear pensando em quais deles eram os mais bagunceiros. Mas me interrompi novamente de o fazer. Talvez não fossem os de minha sala, até mesmo. Perguntei-me o que os levava a fazer isto, entretanto. Talvez isto não fosse necessário de se pensar agora, já que poderia os questionar mais tarde se fosse bem-sucedido na missão. Não parei para pensar na dificuldade que teria ou qual seria o melhor método de realizar a missão; estava tão absorto no caso que apenas tinha um puro e forte desejo de solucionar o problema, e nada mais. Assim que li outra vez o papel que continha minha designação, guardei-o na bolsa especial de equipamentos, na parte direita e detrás de minha cintura. ── Beleza.. ── Pensei, buscando revisar em minha mente os pontos principais. ── Dois deles. Nível gennin. Último incidente na floricultura, então seria sábio começar a investigação por lá. ── Agora determinado e confiante, dei início à corrida; pulei o mais alto que pude para alcançar o telhado de uma das construções mais baixas do local e, pulando de um telhado para outro, como havia lido que era a maneira mais rápida de se locomover quando desempenhando uma tarefa importante, chegaria em poucos instantes na floricultura. Dito e feito: levei poucos minutos para atingir meu objetivo. Assim que cheguei no telhado mais próximo da floricultura, era capaz de ver, graças ao telhado de vidro da construção, as dimensões do estrago; algumas plantas estavam completamente destruídas, terra espalhada para todos os lados e metade da vidraçaria estava esmigalhada. Na entrada do estabelecimento, um dos tutores dos garotos - julgando pelas vestimentas - buscava consolar a dona dali. Troquei algumas palavras com os mesmos, e conforme o professor deles me explicava os locais que vandalizaram, rapidamente entendi o padrão: estavam destruindo todos os locais em que fizeram missões de nível D. Retornando para o complexo de distribuição de missões mais próximos dali, consultei a lista de missões para saber qual seria o próximo alvo: minutos depois, descobri que seria a biblioteca da vila. Não demorei, limitando-me apenas a agradecer pelas informações antes de correr para longe da central, não demorando para rumar á biblioteca da vila. Muitos fundos governamentais estariam em minhas mãos, então quanto antes eu os impedisse, menos seriam os gastos da vila em reparar o dano causado.

No caminho, me perguntei qual seria a melhor abordagem. Eles provavelmente não iriam me ouvir caso eu não utilizasse força - já que outros provavelmente já tentaram fazer o mesmo -, portanto comecei a matutar; era arriscado, mas poderia utilizar uma técnica que estava recentemente aprendendo. Não tinha certeza à respeito de minha proficiência na técnica, mas seria a mais indicada para a situação: afetaria ambos de uma vez, não os causaria danos permanentes nem os machucaria mais do que o necessário. Talvez não desse certo, mas seria a melhor estratégia que tinha para o momento. Assim que me aproximei da biblioteca da vila, pude ver os dois arruaceiros nas redondezas também: a bandana da vila e suas idades os denunciavam. Fora isto, estavam com vários baldes de tinta também, sem dúvida seria parte do próximo truque deles. Mas eu não iria permitir. Pulei do telhado em que estava concentrando minha energia e, liberando-a, exalei junto da mesma a técnica em questão. ── Kanashibari no Jutsu! ── Murmurei com convicção, talvez acreditando que por repeti-lo em minha cabeça facilitaria seu uso. Aparentemente funcionou, já que um deles que estava pronto para jogar a tinta no edifício cessou sua ação imediatamente, o outro, abaixado para pegar ainda outra balde, parou também. ── Vocês estão cometendo crimes contra a Aldeia Oculta da Névoa e suas pessoas. Espero que saibam que os fundos utilizados para reformar os danos serão retirados dos seus bolsos e dos das suas famílias. ── Repreendi-os da maneira mais rígida que pude, embora não fosse meu forte. Mantive-os restritos até que ajuda viesse para que fossem apreendidos e devidamente punidos.