[Rank C] ─ "Expedição de Mineradores"

Mais um dia se iniciava e, para surpreender os que duvidavam de minha capacidade - ninguém se importa, na verdade - consegui acordar cedo mais uma vez; não é bem "conseguir", já que o despertador faz um barulho ensurdecedor e eu sou obrigado a me esticar bastante para desligá-lo. E tenho que desligá-lo bem rápido, caso contrário ele acorda minha mãe e terei um pedaço do inferno logo de manhã. É como acordar numa simulação de terremotos, têm de se fazer movimentos rápidos e tomar decisões sucintas. E foi exatamente isto o que fiz, como um ritual pragmático que exercia há alguns dias. Não era o suficiente para me cansar da rotina, entretanto, então continuaria com os costumes até que a realidade se tornasse obsoleta novamente. Desta vez, busquei me aprontar o mais rápido possível, então me troquei assim que acordei; uma camiseta branca, uma calça preta e sandálias ninjas igualmente negras e de cano longo, que se prolongavam até próximo de meus joelhos. O mais importante, a bolsa de armas ninja, era alojada em minha coxa esquerda. Todos os dias o cereal tinha um gosto enjoativo para meu paladar matinal, e desta vez em particular, enjoativo demais. Não estava com tanta fome já que me via moderadamente apreensivo, portanto resolvi não comê-lo. Tinha algumas frutas na cozinha que pareciam ser mais agradáveis e mais leves também, então as degustei, julgando serem o suficiente pelo momento. Assim que saí de casa, o pergaminho já se encontrava na caixa de correio. Entregaram mais cedo desta vez. Interessante saber que o horário de entrega era, aparentemente, circunstancial. Estava um pouco mais confiante em relação á minha capacidade de realizar missões do nível C que estavam sendo atribuídas a mim no momento, mas mesmo assim a ansiedade tomava conta de meu corpo, mesmo que em menor escala. Era interessante como antecipava muito eventos como estes, e tentava correr em minha mente centenas de cenários possíveis que nunca eram uma centelha próxima da verdade. Mesmo assim, era como um mecanismo de defesa de meu próprio cérebro para reconfortar meu corpo; algo como "tudo bem, você já pensou em tantas possibilidades que está apto agora". Mas só funcionava até certo ponto, e eu sabia que só funcionava até certo ponto. O que me deixava ansioso. Sinto falta dos dias em que esta estratégia funcionava.

Aproximei-me da mesa da cozinha apenas para rapidamente ter algum lugar onde apoiar o pergaminho recém-ganho. Estendi-o sobre a mesa de maneira que a escrita ficasse de pé, de frente para mim. Dando início á leitura, notei que havia engajado-me em algo que parecia ser divertido. Era errado achar uma missão divertida? Quantos conflitos. Sempre gostei de aventuras, e a ideia de proteger mineradores que exploravam uma região inóspita de nosso país parecia bastante eletrizante. Talvez, se fosse errado achar uma missão divertida, eu pudesse converter estes enérgicos sentimentos em algo produtivo. Estava decidido! Iria me empenhar o dobro nesta missão: o dobro de alerta, o dobro de esforço e o dobro de proteção para os mineradores! Animei-me tanto quanto quando recebia livros novos que estava ansioso para ler. É mesmo... ainda não havia lido hoje. Mas me encontrava tão motivado a ler quanto motivado á concluir aquela missão de uma maneira excelente. A vantagem de me empenhar na missão é que me tornaria um ninja mais forte, que por consequência seria capaz de proteger mais pessoas. Nesta altura, a literatura deveria se tornar um passatempo para quando não tenho outras atividades á serem realizadas. Talvez devesse me conformar com o fato de que leria menos; era um hábito egoísta para um ninja, de fato. Afinal de contas, o tempo que gasta lendo poderia estar sendo convertido em se tornar um guerreiro melhor e, que por consequência, seria capaz de proteger mais pessoas e salvar mais vidas. Renovado por minha auto-motivação otimista e por vários minutos de reflexões inúteis sobre literatura x ser um ninja, saí de casa antes que minha mãe acordasse, deixando um bilhete na mesa para que não se preocupasse com a minha ausência durante as próximas horas.

Caminhando até os portões da vila, meus olhos puderam ver, ao longe, embora ainda nos portões, um grupo de indivíduos apropriadamente equipados com ferramentas de mineração e com várias mochilas. Saudei-os de maneira animada, e alguns deles retribuíram o entusiasmo ao me cumprimentar. Trocamos algumas poucas palavras, nos apresentando e tendo certeza de que os objetivos para a missão estavam claros e demos início á jornada. Ofereci-me para carregar algumas de suas bolsas, e aceitando minha oferta, deram-me algumas delas. Não reclamava, já que gostava de fazer boas ações espontâneas para pessoas que trabalhavam pelo bem comum; carreguei uma nas costas e uma em cada um de meus braços durante boa parte de nosso percurso até as montanhas. Eles também foram gentis, oferecendo-me água - que eu esqueci de trazer e devo me lembrar no futuro, aliás - e alguns mantimentos enlatados que durariam por toda a viagem. Surpreendentemente o suficiente para uma missão deste nível, o maior nível de perigo que tivemos foram alguns animais selvagens que espantei sem demasiados problemas. Encontraram, de fato, os minerais que estavam procurando e, preenchendo um relatório extenso na fogueira á noite, notificaram-me que a missão estava concluída e que deveríamos acordar cedo no dia seguinte para retornarmos para o vilarejo. Não era alguém exatamente sedento por combates, então fiquei feliz ao saber que a parte mais perigosa do trabalho havia sido concluída e que o que nos restava era o retorno para casa. Ao menos, nossos superiores ficariam feliz em saber do sucesso da missão, e com certeza seria algo positivo em minha ficha concluir mais uma missão sem incidentes negativos.